Não fuja da luta, covarde

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Empate

domingo, 19 de fevereiro de 2023

O Mal-Estar no litoral neoliberal: torpedo narcísico, o supereu e os roqueiros reaças



Por Fábio Dal Molin

 Praia da Pinheira, mar azul turquesa cheio de barcos de pesca ancorados e albatrozes, a natureza explode em exuberância.

Ontem foi dia de Happy Hour na cervejaria artesanal, meu lugar mundo praiano porque, além das maravilhosas e frutadas Ipas , toca rock pesado e livre na playlist da TV.
E ontem a trilha sonora com imagem era um show do Iron Maiden. Tres homens estavam sentados na barra e davam sinais de terem passado a tarde ali. Falavam de música e de shows, talvez inspirados no que passava na TV. Eram gaúchos, do interior, descendentes de italianos ou alemães, e falavam de espetáculos Inesquecíveis, os mesmos eu fui:Iron Maiden, Black Sabbath, David Gilmour , Roger Waters.
Então um deles, que estava sentado de costas para mim no balcão, preferiu uma frase que eu já conhecia, mas até a achava que era folclore de Internet " O show do Roger Waters estava bom mas tinha muita política " . Levei um choque. Em algumas circunstâncias eu até entraria na conversa, mas como a diferença etílica era grande ( eles estavam nas últimas cervejas e eu estava na primeira ) e essa frase me atingiu como um torpedo narcísico eu nem pensei nisso.
O papo seguiu. Eu senti tristeza, pois compartilhava muito com eles, eram meus conterrâneos, classe média, das mesmas origens e com o mesmo gosto musical, a ponto de um deles ter dito " o melhor show que já fui foi do Black Sabbath na FIERGS...
ESSA FRASE É MINHA. "Eu sou você " diz Narciso para a água que diz " você sou eu".
Mais adiante na conversa o sujeito repete " tinha muita politicagem no show do Roger Waters, não se deve misturar música e política " .A pessoa escuta uma banda , compra seus discos, paga 300 reais por um show e simplesmente não entende nada do que significam as músicas, filmes, imagens....sim , ele foi um dos que vaiou a entrada de crianças negras no palco com uma camiseta escrito " antifascismo ", mas o que será que ele pensou quando apareceu aquela fábrica imensa com um porco voando na música "Pigs on The wing"?
Aqui é possível ver a tragédia brasileira, onde uma prótese ideológica foi instalada na subjetividade que impede o cidadão de apreciar totalmente um dos maiores e mais significativos shows de todos os tempos. Freud dizia que o super eu é um representante da lei punitiva, uma demanda do próprio sujeito por culpa. A ideologia dos roqueiros reaça oblitera o gozo da experiência musical plena que nos anos 70 representava um questionamento pulsional do mundo adulto careta, capitalista e armamentista.
A conversa sobre meus shows preferidos fez a sombra do objeto perdido do rock cair sobre mim.