Não fuja da luta, covarde

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Empate

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sou um anarquista ingênuo....

"Não é preciso ser triste para ser militante" diz Michel Foucault em seu manifesto "Por uma vida não fascista", prefácio da obra-rizoma "O Anti-Édipo" de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Nosso amado arquivista calvo também dispara uma frase simples, banal, mas definitiva e que hoje perturba meus neurônios cada vez que  desembarco da nave dos sonhos todas as manhãs para habitar esta realidade semidesperta "não morra de amores pelo poder".
Nesta semana a Universidade Federal do Rio Grande , FURG, local onde tento garimpar pensamentos e explodir mentes em troca da sobrevivência, abriu diminutas brechas em seu cotidiano de aulas, bimestres, notas, burocracias, processos,  arroubos melancólicos de reunite aguda.
Estudantes ocuparam o palácio da reitoria para exigir direitos, esquerdos e um pouco de centralização. A Universidade Pública passa pelo mesmo processo que muitas favelas: remover pessoas com garantias  futuras de direitos e estruturas em um terreno isolado e saturado e, como a mãe primordial , remove o seio da boca da criança provocando-lhe angústia. Mas, ao contrário do que muitos pretensos "adultos" imaginam, as crianças não sabem só chorar, sabem agir, perturbar, balbuciar algo mais que  meros queixumes.
Minha espada afiada de mestre ignorante foi forjada por uma inquietação sobre o movimento estudantil, em minha época uma mera reprodução do movimento sindical; engessado, aparelhado, triste...Sempre pensei que a ação política deveria ser movediça, cotidiana, energética, rompedora...
E agridoce fiquei na reunião de minha própria categoria, que terá mais detalhes em minha próxima postagem (escrevo essa na ansiedade infantil de inaugurar o blog...)
Lembrei do filme iconoclasta "A Vida de Brian" : quando Brian, um simulacro cômico de Cristo, está para ser crucificado, sua namorada  recorre desesperadamente para seu movimento social, que naquele momento está em reunião. A despeito do desespero e da morte iminente de um de seus membros, o grupo aceita incluir na pauta de informes e registrar uma moção  de apoio  ao companheiro que se sacrificará pela causa.
Enquanto os estudantes protagonizavam um ato de galhardia e sacrifício, meus colegas sindicalistas ostentavam currículos invejáveis de lutas, e após constatarmos que nosso país quer nos crucificar, o ponto culminante da discussão foi.... se os não sindicalizamos tinham ou não direito ao voto, pois, na opínião de um colega, aquelas pessoas que estavam ali por livre e galharda vontade de ajudar e promover nossa causa pudessem votar, o resultado seria caos e anarquia...
Lembro sempre quando algum aluno da FURG que não está  matriculado em minha disciplina (?) pede educadamente para assistir minhas aulas e eu respondo sempre "ora, se nós precisamos de chamada, bimestre e provas para obrigar nossos alunos a frequentarem as aulas,  porque eu impediria o desejo espontâneo de saber?" . Mas, enfim, eu sou um anarquista ingênuo.... 

Um comentário:

  1. A ficção imita a vida real e vice-versa... aquelas com a cabeça na areia são as que desviam o olhar ao elefante na sala... belo texto... continue!!!

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