Não fuja da luta, covarde

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Empate

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A Universidade, a Escola e a Ideologia na Educação

Sexta-feira pela manhã o Campus da FURG de São Lourenço do Sul promoverá um debate sobre Escola Sem Partido.
Eu tenho algumas contribuições para o debate após 22 anos de Universidade Pública como aluno, militante pesquisador e educador. 
Antes de mais nada é preciso dizer que são raras as instituições educativas de ensino superior conhecidas por mim que se propuseram a bancar o debate a respeito das práticas docentes e suas propostas pedagógicas, o a democratizar a horizontalizar as relações entre professor e aluno, a democracia, a participação e uma ideia mais complexa de gerenciamento.
As Universidades em geral reproduzem as metodologias das Escolas ditas tradicionais em termos de ensino e das fábricas e empresas em termos de gestão: avaliações bimestrais, chamadas, tarefas, relações hierarquizadas entre professor e aluno, burocratização, trabalho alienado e pouco espaço de debates acadêmicos.
Pensado utopicamente como uma proposta de abertura e integração da Universidade com a comunidade, o tripé ensino-pequisa-extensão coloca docentes e discentes em uma grande e interminável gincana produtivista. Atividades que não fazem parte do currículo e não se convertem em projetos inscritos em sistemas não existem, e o trabalho de sala de aula torna-se invisível e penoso para alguns.
É daí que surgem minhas críticas, pois sou professor de Psicologia da Educação e carrego em meu trabalho um forte viés filosófico e pedagógico de matriz libertária e crítica, com Deleuze, Foucault, Piaget, Jaques Ranciere e Paulo Freire. Minha luta é sempre bater de frente com a assimilação universitária do que Freire chama de ensino bancário não apenas no campo teórico, e sim na prática. Eu não sei como são outras áreas do saber, mas no meu caso é impossível trabalhar nesse viés sem experimentá-lo, sem provocar estremecimento e forçar o pensamento crítico.
Aprendi com o filósofo Slavoj Zizek que a ideologia não é algo que é ensinado ou discursado. A ideologia é algo que está enraizado na prática cotidiana, nos modos de existência, na própria estrutura da realidade vivida. Aquilo que entendemos como doutrinação ou "ideologia" no senso comum ou aquilo que o Escola sem Partido tenta combater é o que chamamos de "crítica a ideologia", algo muito pouco exercido pela maioria dos educadores, em especial na Universidade.
O mais pernóstico do Escola sem Partido é justamente não saber o que se passa na realidade Escolar e Universitária, onde Paulo Freire, pedagogo tão odiado por seus idealizadores, é apenas um nome que surge no máximo utopicamente. A verdadeira ideologia da Educação Brasileira é, e sempre foi, o sonho da direita contemporânea: muito trabalho vazio, produtivismo e pouca reflexão crítica.
Não é a toa que chegamos a um ponto que boa parcela da população brasileira acredita em tudo que vê na TV ou no facebook como se fosse verdade, apoia o fascismo, é contras os trabalhadores e somos campeões em acidentes de trânsito, corrupção e homicídios.

Um comentário:

  1. Bom dia Professor! Ao lhe cumprimentar, peço permissão para usar seu texto como uma das referências neste debate. Como vereadora em Porto Alegre, tenho participado dessa discussão em amplos setores. Já efetuei uma audiência publica, outros debates com o movimento de mulheres e juventude, na tribuna no embate com o; autor do projeto dito escola sem partido... E protocolei, como contraponto, com apoio de amplos setores, a Lei Escola Sem Mordaça. Um abraço e muita gratidão por - através do conhecimento e vivência concreta como educador, estar divulgando seun pensamento e sua experiência, o que vem a colaborar muito com a necessidade que temos de ampliar ainda mais nossa participação por uma formação libertária e democratica.

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