Poço de petróleo destruído por Saddam Hussein na primeira guerra do Iraque. Foto de Sebastião Salgado. |
Agora o que chega na minha time line são conflitos entre a
importância do desastre de Mariana vs .os atentados terroristas em Paris. Por
acaso tratei deste assunto esta semana neste blog. A televisão ainda é um dos meios mais
importantes de distribuição de enfoques parciais sobre "o que acontece no
mundo", e ela é limitada no tempo e no espaço em muitos sentidos, afinal
pode exibir apenas uma narrativa por vez, é pautada por seus anunciantes e
pelos seus fornecedores de informação.
No caso do tempo, eu mesmo imaginei que o exército
israelense e os guerrilheiros palestinos estão todos juntos abraçados em um
auditório assistindo a cobertura dos atentados em Paris, esperando a sua vez de
entrar no "palco". Essa é a sensação do espectador médio que observa
o mundo pela janela da televisão: o que não está na pauta simplesmente
desaparece deste universo para depois retornar quase como novidade. Eu, por
exemplo, confesso que ignorava a existência das grandes barragens de lama com
rejeitos de minério do Rio Doce até vê-las estourar há poucos dias, assim como
não tinha ideia que três dias atrás o exército americano assassinou um dos líderes
do Estado Islâmico com um míssil disparado por um drone...
Para quem não sabe,
boa parte do material exibido no
noticiário internacional é "terceirizado", adquirido em pacotes de
grandes redes como Associated Press, CNN, BBC, Fox... Quase como uma TV a cabo
doméstica.É claro que nos textos adquiridos vem boa boa carga de realidade produzida ideologicamente, e há no
contrato a obrigação de coloca-los na
prioridade na pauta.
Em minha opinião, o
massacre de Paris e o desastre ecológico de Minas Gerais tem como origem
evidente o enfraquecimento dos Estados Nacionais característicos do século XXI
e a predominância das grandes corporações que administram as riquezas
energéticas mundiais. George Bush pai
tornou explícito este enfraquecimento dando início a uma guerra por
petróleo no Iraque que seu filho deu seqüencia no mesmo país e depois no
Afeganistão (em ambos o exército foi
armado e treinado pelos EUA em outras guerras contra o "comunismo" e
a favor do petróleo...).
O Oriente Médio, que já era um território caótico, virou um barril de
pólvora desde então. O Estado Islâmico,
o Talibã e a Al Qaeda são a reação enviesada e truculenta a ocupações ilegais
de três países que perderam abertamente sua soberania nacional: Iraque, Afeganistão
e Siria.Os atentados de Paris são a ponta do Iceberg destes problemas. A miséria
e as guerras tribais são o mote político
e religioso de uma furiosa guerra pelo petróleo desencadeadora de uma das
piores distribuições de renda do mundo. Sob o solo árido e abarrotado de petra oleum convivem Emires bilionários com
grupos fundamentalistas miseráveis e condenados ao obscurantismo ou ao
subemprego como refugiados na Europa.
A desigualdade social é o que une os terroristas islâmicos
com os soldados do tráfico em cidades como o Rio de Janeiro como bodes
expiatórios do sistema: exclusão, revolta, violência e relações de pertença em
um universo subjetivo de poucas perspectivas. Aí talvez resida uma das muitas razões pelas quais os atentados de Paris sejam uma
notícia mais palatável do que o desastre
de Minas: os terroristas são vilões de carne, osso e máscaras, e boa parte dos
telespectadores que consomem notícias ficam satisfeitos com a explicação usual
de que a violência no Oriente Médio é causada pelo fanatismo religioso e pela
loucura.
No caso do desastre de Minas Gerais o evento em sua
aparência imediata tem proporções geológicas e quase divinas. As causas
primeiras de tal fenômeno são as mesmas dos atentados: a busca pelo monopólio e
pelo lucro de grandes empresas na exploração de recursos naturais não
renováveis. No entanto, nenhum grupo terrorista explodiu as barragens e
explicar tal fenômeno implicaria em abrir a caixa de pandora da privatização da
Vale e todas as violações de leis ambientais ou o lobby das mineradoras sobre
os legisladores brasileiros. Aí a piada do mar de lama poderia ter alguma graça
se o que aconteceu no Rio Doce não tivesse sido tragicamente tão real.
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