Não fuja da luta, covarde

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Empate

domingo, 15 de novembro de 2015

Do terrorismo ao mar de lama

Poço de petróleo destruído por Saddam Hussein na primeira guerra do Iraque. Foto de Sebastião Salgado.



Agora o que chega na minha time line são conflitos entre a importância do desastre de Mariana vs .os atentados terroristas em Paris. Por acaso tratei deste assunto esta semana neste  blog. A televisão ainda é um dos meios mais importantes de distribuição de enfoques parciais sobre "o que acontece no mundo", e ela é limitada no tempo e no espaço em muitos sentidos, afinal pode exibir apenas uma narrativa por vez, é pautada por seus anunciantes e pelos seus fornecedores de informação.
No caso do tempo, eu mesmo imaginei que o exército israelense e os guerrilheiros palestinos estão todos juntos abraçados em   um auditório assistindo a cobertura dos atentados em Paris, esperando a sua vez de entrar no "palco". Essa é a sensação do espectador médio que observa o mundo pela janela da televisão: o que não está na pauta simplesmente desaparece deste universo para depois retornar quase como novidade. Eu, por exemplo, confesso que ignorava a existência das grandes barragens de lama com rejeitos de minério do Rio Doce até vê-las estourar há poucos dias, assim como não tinha ideia que três dias atrás o exército americano assassinou um dos líderes do Estado Islâmico com um míssil disparado por um drone...
 Para quem não sabe, boa parte do material  exibido no noticiário internacional é "terceirizado", adquirido em pacotes de grandes redes como Associated Press, CNN, BBC, Fox... Quase como uma TV a cabo doméstica.É claro que nos textos adquiridos vem boa boa carga de  realidade produzida ideologicamente, e há no contrato a obrigação de  coloca-los na prioridade na pauta.
Em minha opinião,  o massacre de Paris e o desastre ecológico de Minas Gerais tem como origem evidente o enfraquecimento dos Estados Nacionais característicos do século XXI e a predominância das grandes corporações que administram as riquezas energéticas mundiais. George Bush pai  tornou explícito este enfraquecimento dando início a uma guerra por petróleo no Iraque que seu filho deu seqüencia no mesmo país e depois no Afeganistão (em ambos  o exército foi armado e treinado pelos EUA em outras guerras contra o "comunismo" e a favor do petróleo...).
O Oriente Médio, que já era  um território caótico, virou um barril de pólvora desde então.  O Estado Islâmico, o Talibã e a Al Qaeda são a reação enviesada e truculenta a ocupações ilegais de três países que perderam abertamente sua soberania nacional: Iraque, Afeganistão e Siria.Os atentados de Paris são a ponta do Iceberg destes problemas. A miséria e as guerras tribais são o  mote político e religioso de uma furiosa guerra pelo petróleo desencadeadora de uma das piores distribuições de renda do mundo. Sob o solo árido e abarrotado de petra oleum convivem Emires bilionários com grupos fundamentalistas miseráveis e condenados ao obscurantismo ou ao subemprego como refugiados na Europa.
A desigualdade social é o que une os terroristas islâmicos com os soldados do tráfico em cidades como o Rio de Janeiro como bodes expiatórios do sistema: exclusão, revolta, violência e relações de pertença em um universo subjetivo de poucas perspectivas. Aí talvez resida uma das  muitas razões  pelas quais os atentados de Paris sejam uma notícia  mais palatável do que o desastre de Minas: os terroristas são vilões de carne, osso e máscaras, e boa parte dos telespectadores que consomem notícias ficam satisfeitos com a explicação usual de que a violência no Oriente Médio é causada pelo fanatismo religioso e pela loucura.

No caso do desastre de Minas Gerais o evento em sua aparência imediata tem proporções geológicas e quase divinas. As causas primeiras de tal fenômeno são as mesmas dos atentados: a busca pelo monopólio e pelo lucro de grandes empresas na exploração de recursos naturais não renováveis. No entanto, nenhum grupo terrorista explodiu as barragens e explicar tal fenômeno implicaria em abrir a caixa de pandora da privatização da Vale e todas as violações de leis ambientais ou o lobby das mineradoras sobre os legisladores brasileiros. Aí a piada do mar de lama poderia ter alguma graça se o que aconteceu no Rio Doce não tivesse sido tragicamente tão real.

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