Não fuja da luta, covarde

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Empate

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Machos Demoníacos





"Até agora todos os seres criaram alguma coisa que os ultrapassou; quereis ser o refluxo dessa grande maré e retornar ao animal, em vez de superar o homem? Que é o símio para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois tal deve ser o homem para o Além-Homem: uma irrisão ou uma vergonha. Percorrestes o caminho que vai do verme ao homem, tendes ainda em vós muito do verme. Outrora fostes símios e até hoje o homem ainda é o mais símio de todos os símios. Até o mais sábio entre vós é um ser indeciso e híbrido entre planta e fantasma."
-NIETZSCHE, Assim Falava Zaratustra
Existe uma ideologia muito comum no Brasil que é a pernóstica crítica feita as entidades que defendem os Direitos Humanos. Tal ideologia aparece em programas de rádio e TV e nas mensagens compartilhadas nas redes sociais com frases do tipo "direitos humanos para humanos direitos" ou na queixa de que nenhuma entidade dos direitos humanos defende os policiais e suas famílias quando estes são vítimas de violência. Desde que vivemos em um regime democrático sustentado pela constituição de 1988, nossas instituições policiais tem vivenciado conflitos institucionais entre forças reformistas e e conservadoras, afinal, o Brasil não realizou um julgamento dos crimes cometidos pelas autoridades policiais nos chamados anos de chumbo, fato que disseminou a corrupção e a perversidade nas forças policiais.Os problemas da força policiala no Brasil são ainda agravados pelos baixos salários e a escassos investimentos em qualificação, tecnologia e compromisso ético dos agentes que deveriam atuar para fazer cumprir a constituição para todos os cidadãos e protagonizar a paz. Não é função das forças policiais matar, agredir, produzir terror. A força bruta deve ser utilizada em legítima defesa ou para proteger aqueles que são agredidos.

Em um país com elevados índices de corrupção e violência, no qual aos fatores econômicos e de classe preponderam quando alguém precisa ter acesso a justiça e os mecanismos de investigação e apuração dos fatos são precários, a defesa dos Diretos Humanos é, na verdade, a defesa do direito em si, do contrário é conferido a polícia um poder quase divino de vigiar, julgar e punir.Muitas vezes quem é contra os direitos humanos se imagina acima da lei, e que o crime é atributo de classes inferiores, ou que o mal está sempre "nos outros". 
Neste mês de novembro, em Porto Alegre está acontecendo a Feira do Livro Feminista, evento totalmente independente e auto-organizado para disseminação da discussão sobre o machismo, a homofobia  e a violência contra as mulheres. Na Feira, além da distribuição de livros, acontecem debates, manifestações e eventos artísticos e culturais. No último domingo, durante ao ensaio de uma apresentação artística os vizinhos teriam reclamado do barulho e a  polícia foi chamada
 O que as organizadoras do evento relatam foi que a polícia agiu energicamente e   com ofensas racistas e misóginas, chegando a sacar armas de fogo e agressões físicas. Policiais Militares interviram de maneira truculenta, autoritária e desproporcional, além de destilar preconceitos de gênero contra cidadãs indefesas que não estavam violando nenhuma lei. Mais hedionda é a reação de algumas pessoas nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais  que reificam suas posições machistas ou que acreditam que se elas sofreram violência é porque fizeram algo errado, e aí entra a insidiosa ideologia do complexo de Charles Bronson, típico de nossa colonização cultural pelo cinema de massa americano: o policial é sempre herói e sua violência é sempre legitimada, ele pode torturar, matar, acertar inocentes e até mesmo roubar carro mostrando o distintivo. É muito triste quando vemos policiais reclamarem da lei quando dão entrevistas na TV ou no  rádio, dizendo que esta atrapalha seu serviço. Ora se a lei está errada, que tipo de Lei é "legítima? Policiais são servidores públicos e cidadãos como quaisquer outros, com a diferença que o Estado lhes dá poderes e a função de fazer cumprir a constituição. A violência policial e o abuso de poder, na minha opinião, são os piores crimes que podem ser cometidos, pois o policial criminoso e corrupto se equivale a um pai abusador. É alguém que deveria inspirar confiança e proteção, mas perverte suas relações e defende um tipo de classe, raça, crença ou ideologia. Atos como ocorridos no domingo disseminam o medo e o terror e podem gerar conflitos sociais ainda mais radicais.
Tal atitude parece encaixar naquilo que os antropólogos americanos Richard Wrangan e Dale Peterson apresnetam em sua obra "Macho Demoníaco". No livro, os cientistas apresentam descrições impressionantes e desconcertantes de evidências comportamentais evolutivas que demonstram que nós, os “humanos”, somos, na verdade, uma das cinco classes de grandes primatas juntamente com orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos. A obra dos norte-americanos tem como foco os comportamentos agressivos: infanticídio, estupro, formação de grupos organizados de extermínio, relações de dominância de machos e fêmeas e entre machos.

 Na tese de Whranghan e Peterson os demais grandes primatas (bonobos, orangotangos, chimpanzés e gorilas são mais “humanos” do que imaginávamos e nós, pobres cabeçudos sem pêlo somos quase gêmeos genéticos de chimpanzés e bonobos, uma corda esticada entre o primeiro, um assassino estuprador cruel que resolve questões de sexo com poder e o segundo, um sátiro das florestas, uma criatura dócil, sensual que resolve questões de poder com sexo.
Os chimpanzés são machistas, violentos e ciumentos (a palavra ciúme vem de cio, quando machos enlouquecem com feromônios a ponto de lutar e estuprar). Já os bonobos conseguiram eliminar a tensão do cio, as fêmeas estão sempre disponíveis e suas comunidades são imensos suingues em plena floresta, além de as fêmeas desenvolverem um sistema de cooperação e cuidado intenso dos filhotes que elimina a dominação masculina.
Infelizmente, em nosso país, uma parcela expressiva dos homens que atuam na esfera pública têm agido com o mais violento dos chimpanzés.Eu luto contra isso. E apresento toda minha solidariedade e apoio às amigas  da Feira do Livro Feminista.

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